terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Um domingo Complexo

Domingo, 28 de novembro de 2010
    
     3 horas da manhã o despertador me convoca para mais um dia de trabalho. A pouca sobriedade que tinha, por conta do horário, foi tomada pela ansiedade. "Será que realmente iam invadir o complexo do alemão?" era uma das perguntas que eu fazia enquanto me arrumava. A outra era querendo saber o que tinha feito para merecer acordar 3 horas da manhã em um domingo.
     Cheguei na Globo 4 horas para conferência habitual de equipamento. Um carro blindado e coletes à prova de bala já me esperavam. Tudo pronto para partida, só faltava o repórter e o cinegrafista chegarem. Enquanto esperava resolvi voltar ao CDE (onde ficam os equipamentos) e pedir o laptop e a câmera, que uso para fazer o “Radar RJ” mostrando o trânsito via internet, para levar pro complexo do alemão, intuição, sei lá. Coloquei no carro junto com os outros equipamentos mas não avisei à ninguém que estava levando (guardem essa parte).
      Chegamos ao complexo por um caminho diferente do usual, fomos informados que uma parte da rua itararé tinha sido fechada pela polícia. No local, o clima era de apreensão. Por volta de 7:30 da manhã começaram a ser disparados vários tiros, e apesar dos policias falarem que os tiros estavam partindo deles, claro, que nos abaixávamos e procurávamos proteção.
      8 horas começaria a invasão, primeiro os helicópteros iam sobrevoar o local e depois a ordem para e entrada da policia seria dada. No momento da invasão, estava com o cinegrafista em uma das entradas da favela da Grota, homens da policia civil e do exército estavam prontos para entrar, só esperando a ordem. Quando a permissão foi dada, tanques da marinha e blindados da CORE tomaram a frente e começaram a invasão, mais tiros foram disparados, muitos tiros, muitos mesmo....
      Voltamos para a principal entrada da favela, onde se encontrava a maior parte da imprensa. Sinto falta da Bette Lucchese e do Luis Júnior, pergunto ao operador (mesma função que eu) que os acompanhava onde eles estavam e recebo, assustado, a notícia de que eles tinham subido junto com a polícia. Em um primeiro momento pensei que eles eram loucos, depois me bateu a vontade de estar junto deles para presenciar tudo que estava acontecendo. A repórter que estava comigo resolveu subir também, fiquei eufórico. Adentramos o complexo atrás de um blindado da marinha, na subida demos de cara com uma barricada feita pelos bandidos para impedir a entrada dos caveirões. Nesse momento assisti uma das cenas mais impressionantes, realmente o caveirão não conseguiu passar, mas o tanque passou pela barricada com mais facilidade do que o meu Celta passa em um quebra-molas. Ali encontrei também a Bette e o Luis, verifiquei se eles tinham bateria de câmera sobrando e falei que os ajudava se necessário. Eles continuaram a jornada junto com a policia por dentro do complexo, enquanto minha equipe fazia imagens e entrevistas com moradores. Como nos afastamos muito da policia, minha equipe resolveu voltar, eu, como queria subir, falei que não voltaria com eles e iria ao encontro da Bette e do Luis Junior para o caso deles precisarem de alguma coisa. Como o operador deles não tinha subido, ficaria tudo certo, minha equipe ficava com o operador deles e eu ficaria com eles.
     Confesso que nessa hora fiquei com medo. Como não tinha mais policia onde estávamos, subi correndo e cada beco que passava ficava, como dizem, com o c... na mão. Quando encontrei o tanque parei de correr e relaxei. Continuei andando até encontrar a Bette e o Luis Junior, que ficaram felizes com a minha presença (juro). Minha incursão pela favela agora era, de novo, na companhia da policia.
      Durante a reportagem, paramos em um local bem aberto, com uma visão privilegiada da cidade. Verifiquei meu nextel, sem sinal, meu Oi, sinal cheio. Se o celular da oi funcionava, provavelmente um modem 3G funcionaria também, pensei. Cheguei na Bette e falei:
       - Bette, eu trouxe um equipamento (lembra do laptop e da câmera?) que a gente pode entrar ao vivo daqui. Topa?
       Ela adorou a idéia, mas tinha um problema, o equipamento estava no carro. Sem pensar duas vezes, o segurança que nos acompanhava se prontificou para pegar. Aliás, deixa eu abrir um parênteses e agradecer aos seguranças que nos deram uma força enorme lá dentro. Antes de avisarmos a redação sobre a possibilidade do ao vivo, fizemos um teste para verificar se o sinal realmente era bom. Montei tudo, peguei a câmera e entreguei pro Luis Junior que me respondeu:
       - Lago, faz você que esse equipamento você que montou você merece fazer.
      Fiquei feliz com a confiança depositada em mim e entramos ao vivo. O resultado: um sucesso, confesso que não tinha noção da repercussão que teria essas simples imagens de internet. Ta aí o ao vivo:  http://g1.globo.com/videos/rio-contra-o-crime/v/rj-traficantes-tinham-visao-privilegiada-da-regiao-do-coqueiral/1383139/#/Todos os Vídeos/page/21
       Depois disso continuamos nossa reportagem, eram impressionantes as marcas de violência na comunidade, paredes com marcas de tiro, desenhos com apologia as drogas e armas e várias apreensões feitas. A mais impressionante foi em uma casa onde as drogas eram guardadas em ambientes refrigerados e até dentro de geladeira.
       A possibilidade de acontecer alguma reação de traficantes a qualquer momento, assustava, mas como a Bette mesmo falou no Mais Você, nós nos apoiávamos, um dava força pro outro continuar. Alguns tiros ainda foram ouvidos durante nossa permanência na comunidade.
       O momento mais emocionante foi o hasteamento das bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro no alto de um teleférico. http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1383228-7823-REPORTER+CHEGA+AO+ALTO+DO+COMPLEXO+DO+ALEMAO,00.html
        No final da matéria, nós nos abraçávamos e agradecíamos uns aos outros pelo momento histórico que passamos juntos. Como diria meu avô em um poema:
         "(...)
          Morri de vez, mas se ressuscitasse
          Faria tudo como antigamente.”

P.s: Para quem não viu a matéria   http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1632880-15605,00.html

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

FUI *

“Meu irmão,
cada gota de sangue em teu sangue
é sangue bom...”

Pior que não era; não no final dos anos 70, onde essa história começa. No carro, iam Kakalo, Inácio e Tupiara, os três nos seus 20 e poucos anos, ninguém de cinto de segurança, que não era obrigatório (nem existia!). Na pancada violenta com outro carro que atravessou a estrada e parou, Kakalo foi arremessado contra o vidro, jugular e aorta seccionadas, a vida se esvaindo rapidamente na hemorragia. Deu a sorte de encontrar uma pessoa solidária, que abriu lugar no banco de trás do seu carro e o levou para um hospital de beira-estrada ali de São Gonçalo. Deu a sorte de encontrar um médico adoravelmente louco, discípulo de Pitanguy, que acreditou nas suas poucas chances de sobrevivência e caprichou na sutura. Saiu daquela com bem disfarçados 360 pontos no rosto e pescoço e seis litros de sangue novinho no corpo.

Vinte e cinco de agosto de 2010. Às 11 da noite, em choque hipovolêmico, causado por uma brutal hemorragia digestiva, Kakalo dá entrada no Hospital da Lagoa. Foi encontrado pela manhã, em Saquarema, e levado a um hospital de Bacaxá, onde eram nulas as possibilidades de atendimento. A transferência para o Rio soou para nós, seus irmãos, como um alívio. Ia dar tudo certo. Mais uma vez – seria a terceira –, Kakalo ia driblar a “velha senhora”.

Depois das providências iniciais – que incluíram a reposição do sangue perdido, plasma para combater a falta de coagulação, noraadrelanina para estabilizar a pressão e ene outros procedimentos –, os médicos levantaram a hipótese de uma doença grave e antiga do fígado. Diante da nossa perplexidade, perguntaram se ele bebia. Claro que sim; era, como nós, boêmio. Mas daí a ter uma hepatopatia grave! Mas, quem sabe?. Nenhum de nós se lembrou do acidente.

No dia seguinte, a hipótese se confirmou em um diagnóstico mais atemorizante: o fígado estava destruído pela cirrose; o esôfago, tomado por grossas e frágeis varizes; os rins tinham parado. Mais perplexidade. Até um pouco de raiva do Kakalo, que nunca comentou o problema, nunca reclamou de uma dorzinha no fígado, que nunca deu uma dica de que estava mal. Nenhum de nós se lembrou do acidente.

Como uma prece, o caçula, Mariozinho, fez o samba cuja introdução melódica reproduzia os sons do CTI e os versos chamavam Kakalo para a vida, exaltando o sangue bom que se sobrepunha à hemorragia.

“Meu irmão,
cada gota de sangue em teu sangue
é sangue bom...”

Nos 20 dias de internação, não sei exatamente quando um de nós (que também não sei qual foi) se lembrou do acidente e dos salvadores seis litros de sangue daqueles idos de 1977. A charada começava a ser desfeita.

Até 1992, quem se via obrigado a tomar uma transfusão ou plasma ficava exposto a uma sortida variedade de vírus, da Aids às hepatites B e C. Entrava para um grupo de altíssimo risco. Mas ninguém sabia disso; não havia controle do sangue doado. Para o Kakalo, coube o vírus da Hepatite C (HCV), que se desenvolveu nele como na maioria dos portadores: silenciosamente, sem desconfortos, sem sinais.

A grande maioria dos pacientes de Hepatite C não apresenta sintomas; a fase aguda passa despercebida. Às vezes, tem alguma coisa, mas parece uma gripe forte. Assim, mais de 80% dos contaminados desenvolverão Hepatite C crônica e suas sequelas. Só descobrirão ao tentarem doar sangue ou quando, por alguma razão ou sorte, um médico solicitar o exame de Marcadores de Hepatite. O mais provável é que a descoberta só aconteça junto com as devastadoras complicações da doença, como a cirrose e o câncer de fígado.

Essas complicações podem aparecer décadas após a contaminação e, pior, também se desenvolver lenta e silenciosamente. Cerca de 40% dos pacientes com cirrose são assintomáticos. Quando surgem os sinais, a doença já está em fase muito avançada.

Segundo o site www.hepcentro.com.br, apesar dos esforços em conter a epidemia, especialmente com a realização de exames específicos em sangue doado, a hepatite C é uma ameaça crescente, que exige medidas adicionais de prevenção e tratamento.

Não sei quais as medidas preconizadas pelo site, mas tenho uma sugestão: que, na anamnese de seus pacientes, os profissionais da saúde (alopatas, homeopatas, dentistas, médicos do trabalho, terapeutas etc.) incluam a pergunta ‘Tomou transfusão de sangue antes de 1992?’. Sem o questionamento direto, acho difícil que antigos transfundidos tragam o assunto à baila – quem vai se lembrar?; quem vai imaginar que umas gotas de sangue pingadas na veia há 30 anos possam matar?

Mas, se algum antigo transfundido leu este texto até o fim, aconselho que procure um médico e peça o exame de Marcadores de Hepatite. É uma providência que vale ouro; ou vale vida. Kakalo era de pouco ir ao médico. Mas, certamente, teria uma outra história se há quatro anos, quando sofreu um AVC e se viu forçado a encarar um tratamento especializado, o neurologista tivesse feito a pergunta que levaria à descoberta da hepatite C. Por falta dela, e apesar de todo o aporte oferecido e do empenho de médicos, enfermeiros e demais profissionais do Hospital da Lagoa, Kakalo morreu no dia 14 de setembro, aos 57 anos, depois de quatro hemorragias causadas pela cirrose. Trinta anos depois, a hepatite C fez barulho e cobrou a conta.



*”Fui!” era uma expressão característica do nosso irmão Kakalo, registrado em cartório como Luiz Carlos. Que saudade!




Texto da minha tia e madrinha Graça Maria Lago, lido e comentado hoje na band news falando sobre essa doença....

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Horario Eleitoral Gratuito

Estava eu prostrado em meu sofá após mais um dia de trabalho, quando comecei a minha maratona televisiva iniciada com Malhação, seguida por Escrito nas Estrelas, RJTV, Ti TI Ti, JN.... Pois é, uma programação global, não por opção, mas o controle remoto estava em cima da mesa e eu estava com preguiça de levantar. Ao final do jornal, começou o horario eleitoral gratuito e como a preguiça ainda era grande resolvi que assisti-lo era melhor do que pegar o controle. Ah, se eu soubesse o que me esperava não teria tomado tal decisão. Fiquei indignado por esse horario ser gratuito, tinham era que me pagar para assistir os absurdos aos quais fui obrigado, pela preguiça, a assistir. Vamos aos fatos:

* Eurico Miranda na tela: "Vocês me conhecem, sabem que sou um candidato ficha limpa..."
Eurico, você tem que se decidir, ou a gente te conhece, ou você é um candidato ficha limpa.

* Com a quantidade de ex jogadores de futebol candidatos acho melhor mudar as reuniões do congresso para os campos do Aterro do Flamengo. Será que Bebeto e Romário vão repetir a parceria da campanha do tetra?
Romário e Edmundo podiam repetir uma parceria também, mas na música. Para quem não sabe, tinha um rap cantado por eles, "rap dos bad boys". Atualmente seria assim:
Nós somos bad boys
mas isso não tem nada a ver
vote na gente em outubro
que não vão se arrepender.

Se bem que o Romário não anda treinando pra ser deputado...


* Odeio esses jingles malditos que não saem da nossa cabeça. Certo dia estava no ônibus e quando dei por mim, me vi cantando "Ey, Ey, Ey mael, um democrata cristão...", morri de vergonha...

* É cada proposta absurda que a gente ouve.... Mas confesso, depois da confusão pra fazer a vistoria do meu carro, me deu vontade de votar no cara que é contra a vistoria do Detran.

* Tenho medo de mudarem o nome de Congresso Nacional para Congresso das Popozudas se Tati Quebra Barraco e Mulher melão forem eleitas....

Eu já tinha decidido faltar a aula, mas resolvi levantar, tomar um banho e ir pra faculdade. Eles me convenceram a estudar, porque se for pra depender deles.....
1x0 eles.

Isso, porque aqui no Rio a coisa ta light. Acreditem, podia ser pior. São paulo conta com Tiririca (pior que ta, num fica), Mulher Pêra, Ronaldo Esper (que quer agulhar os políticos), Kleber Bambam (ex BBB), Vampeta, Kiko e Leando do KLB (o B tem senso do ridículo), entre outros.

A política está tão banalizada, que não me surpreenderia ligar a Tv e dar de cara com um candidato do PADA (Partido dos Amigos Dos Amigos) pedindo voto:
"Eu sou Antônio Bonfim Lopes, o Nem, se você é favor do trânsito livre dos bondes entre as favelas, vote 762".

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Flamengo

Como foi frisado no primeiro post do blog, esse espaço será usado para descarregar minha raiva quando o flamengo (em minúscula mesmo, igual ao futebol que esta jogando) perder.
Pois bem, ontem esse raro fato (ta, esse ano nem tão raro assim) aconteceu e serei obrigado a cornetar o, pra mim, principal responsável pela derrota: Rogério Lourenço.
Por mais que o flamengo não esteja com um time digno de campeão brasileiro, esse cara que se diz técnico, consegue piorar ainda mais a situação. No primeiro tempo do jogo contra o Atlético-PR, o time não jogou um primor de futebol, mas ainda sim conseguia nivelar a partida. Eis que o estrategista mór resolveu mudar os 2 atacantes a fim de melhorar o poder ofensivo da equipe. Até que não seria uma má idéia se a dupla de ataque reserva não fosse Vinícius Pacheco e Cristian Borja (esse último não sei nem da onde e nem porque veio parar no flamengo). Leandro Amaral e Val Baiano não é a oitava maravilha do mundo, mas é bem melhor que a outra, e isso não é um elogio.
Como o previsto, a mudança não surtiu efeito e o flamengo tomou um gol, que seria o da vitória do rival.
Não satisfeito com a derrota parcial e com o flamengo precisando atacar, foi anunciada mais uma substituição feita pelo invejável técnico: sai Petkovic e entra nada mais nada menos que..... Kléberson. Resultado, Atlético-PR 1x0 flamengo.
Minha única esperança dessa rodada era o Luxemburgo ser demitido, assim como o louvável rogério (também em minúscula agora), e assumir seu lugar no atual campeão brasileiro. Mas nem isso aconteceu.
Como Flamenguista (agora sim em maiúscula) inveterado, minha esperança ainda não acabou. Tomara que o Deivid e o Diogo deêm um jeito nesse ataque medíocre que o flamengo atualmente possui.....

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Será?

Será que hei de encontrar
esse sorriso e esse olhar
essa boca pra beijar
em algum outro lugar?

Será que hei de querer
encontrar em outro ser
essa alegria de viver
que não seja em você?

Será que há de existir
alguem que possa imprimir
essa vontade de sorrir
que você me faz sentir?

Será que hei de ter que impor
ao preto e branco uma cor
fazer pose de doutor
pra ganhar o seu amor?

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Apresentação

Acho que o HD do meu computador (leia-se cérebro) está muito cheio, por isso, antes dele começar a travar resolvi arrumar um HD externo (leia-se blog). Aqui farei um backup dos arquivos já armazenados e salvarei outros tantos.
Já aviso de antemão que quando meu Flamengo perder esse espaço será impróprio para menores de 18 anos.
Aviso dado voltarei a cordialidade. Neto de Mário Lago com muito orgulho, postarei alguns de seus textos e poesias que gostaria de compartilhar com todos. Escreverei também as minhas próprias, não com a mesma genialidade dele, mas me esforçarei bastante, prometo....
Ah, mais uma ressalva: eu bebo. Portanto, textos publicados de 3, 4 horas da manhã até umas 7 deverão ser desconsiderados (ou não) pois provavelmente estarei bêbado.

Desde já agradeço a presença de quem vier.
Bjs e abraços