Domingo, 28 de novembro de 2010
3 horas da manhã o despertador me convoca para mais um dia de trabalho. A pouca sobriedade que tinha, por conta do horário, foi tomada pela ansiedade. "Será que realmente iam invadir o complexo do alemão?" era uma das perguntas que eu fazia enquanto me arrumava. A outra era querendo saber o que tinha feito para merecer acordar 3 horas da manhã em um domingo.
Cheguei na Globo 4 horas para conferência habitual de equipamento. Um carro blindado e coletes à prova de bala já me esperavam. Tudo pronto para partida, só faltava o repórter e o cinegrafista chegarem. Enquanto esperava resolvi voltar ao CDE (onde ficam os equipamentos) e pedir o laptop e a câmera, que uso para fazer o “Radar RJ” mostrando o trânsito via internet, para levar pro complexo do alemão, intuição, sei lá. Coloquei no carro junto com os outros equipamentos mas não avisei à ninguém que estava levando (guardem essa parte).
Chegamos ao complexo por um caminho diferente do usual, fomos informados que uma parte da rua itararé tinha sido fechada pela polícia. No local, o clima era de apreensão. Por volta de 7:30 da manhã começaram a ser disparados vários tiros, e apesar dos policias falarem que os tiros estavam partindo deles, claro, que nos abaixávamos e procurávamos proteção.
8 horas começaria a invasão, primeiro os helicópteros iam sobrevoar o local e depois a ordem para e entrada da policia seria dada. No momento da invasão, estava com o cinegrafista em uma das entradas da favela da Grota, homens da policia civil e do exército estavam prontos para entrar, só esperando a ordem. Quando a permissão foi dada, tanques da marinha e blindados da CORE tomaram a frente e começaram a invasão, mais tiros foram disparados, muitos tiros, muitos mesmo....
Voltamos para a principal entrada da favela, onde se encontrava a maior parte da imprensa. Sinto falta da Bette Lucchese e do Luis Júnior, pergunto ao operador (mesma função que eu) que os acompanhava onde eles estavam e recebo, assustado, a notícia de que eles tinham subido junto com a polícia. Em um primeiro momento pensei que eles eram loucos, depois me bateu a vontade de estar junto deles para presenciar tudo que estava acontecendo. A repórter que estava comigo resolveu subir também, fiquei eufórico. Adentramos o complexo atrás de um blindado da marinha, na subida demos de cara com uma barricada feita pelos bandidos para impedir a entrada dos caveirões. Nesse momento assisti uma das cenas mais impressionantes, realmente o caveirão não conseguiu passar, mas o tanque passou pela barricada com mais facilidade do que o meu Celta passa em um quebra-molas. Ali encontrei também a Bette e o Luis, verifiquei se eles tinham bateria de câmera sobrando e falei que os ajudava se necessário. Eles continuaram a jornada junto com a policia por dentro do complexo, enquanto minha equipe fazia imagens e entrevistas com moradores. Como nos afastamos muito da policia, minha equipe resolveu voltar, eu, como queria subir, falei que não voltaria com eles e iria ao encontro da Bette e do Luis Junior para o caso deles precisarem de alguma coisa. Como o operador deles não tinha subido, ficaria tudo certo, minha equipe ficava com o operador deles e eu ficaria com eles.
Confesso que nessa hora fiquei com medo. Como não tinha mais policia onde estávamos, subi correndo e cada beco que passava ficava, como dizem, com o c... na mão. Quando encontrei o tanque parei de correr e relaxei. Continuei andando até encontrar a Bette e o Luis Junior, que ficaram felizes com a minha presença (juro). Minha incursão pela favela agora era, de novo, na companhia da policia.
Durante a reportagem, paramos em um local bem aberto, com uma visão privilegiada da cidade. Verifiquei meu nextel, sem sinal, meu Oi, sinal cheio. Se o celular da oi funcionava, provavelmente um modem 3G funcionaria também, pensei. Cheguei na Bette e falei:
- Bette, eu trouxe um equipamento (lembra do laptop e da câmera?) que a gente pode entrar ao vivo daqui. Topa?
Ela adorou a idéia, mas tinha um problema, o equipamento estava no carro. Sem pensar duas vezes, o segurança que nos acompanhava se prontificou para pegar. Aliás, deixa eu abrir um parênteses e agradecer aos seguranças que nos deram uma força enorme lá dentro. Antes de avisarmos a redação sobre a possibilidade do ao vivo, fizemos um teste para verificar se o sinal realmente era bom. Montei tudo, peguei a câmera e entreguei pro Luis Junior que me respondeu:
- Lago, faz você que esse equipamento você que montou você merece fazer.
Fiquei feliz com a confiança depositada em mim e entramos ao vivo. O resultado: um sucesso, confesso que não tinha noção da repercussão que teria essas simples imagens de internet. Ta aí o ao vivo: http://g1.globo.com/videos/rio-contra-o-crime/v/rj-traficantes-tinham-visao-privilegiada-da-regiao-do-coqueiral/1383139/#/Todos os Vídeos/page/21
Depois disso continuamos nossa reportagem, eram impressionantes as marcas de violência na comunidade, paredes com marcas de tiro, desenhos com apologia as drogas e armas e várias apreensões feitas. A mais impressionante foi em uma casa onde as drogas eram guardadas em ambientes refrigerados e até dentro de geladeira.
A possibilidade de acontecer alguma reação de traficantes a qualquer momento, assustava, mas como a Bette mesmo falou no Mais Você, nós nos apoiávamos, um dava força pro outro continuar. Alguns tiros ainda foram ouvidos durante nossa permanência na comunidade.
O momento mais emocionante foi o hasteamento das bandeiras do Brasil e do Rio de Janeiro no alto de um teleférico. http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1383228-7823-REPORTER+CHEGA+AO+ALTO+DO+COMPLEXO+DO+ALEMAO,00.html
No final da matéria, nós nos abraçávamos e agradecíamos uns aos outros pelo momento histórico que passamos juntos. Como diria meu avô em um poema:
"(...)
Morri de vez, mas se ressuscitasse
Faria tudo como antigamente.”
P.s: Para quem não viu a matéria http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1632880-15605,00.html