segunda-feira, 27 de setembro de 2010

FUI *

“Meu irmão,
cada gota de sangue em teu sangue
é sangue bom...”

Pior que não era; não no final dos anos 70, onde essa história começa. No carro, iam Kakalo, Inácio e Tupiara, os três nos seus 20 e poucos anos, ninguém de cinto de segurança, que não era obrigatório (nem existia!). Na pancada violenta com outro carro que atravessou a estrada e parou, Kakalo foi arremessado contra o vidro, jugular e aorta seccionadas, a vida se esvaindo rapidamente na hemorragia. Deu a sorte de encontrar uma pessoa solidária, que abriu lugar no banco de trás do seu carro e o levou para um hospital de beira-estrada ali de São Gonçalo. Deu a sorte de encontrar um médico adoravelmente louco, discípulo de Pitanguy, que acreditou nas suas poucas chances de sobrevivência e caprichou na sutura. Saiu daquela com bem disfarçados 360 pontos no rosto e pescoço e seis litros de sangue novinho no corpo.

Vinte e cinco de agosto de 2010. Às 11 da noite, em choque hipovolêmico, causado por uma brutal hemorragia digestiva, Kakalo dá entrada no Hospital da Lagoa. Foi encontrado pela manhã, em Saquarema, e levado a um hospital de Bacaxá, onde eram nulas as possibilidades de atendimento. A transferência para o Rio soou para nós, seus irmãos, como um alívio. Ia dar tudo certo. Mais uma vez – seria a terceira –, Kakalo ia driblar a “velha senhora”.

Depois das providências iniciais – que incluíram a reposição do sangue perdido, plasma para combater a falta de coagulação, noraadrelanina para estabilizar a pressão e ene outros procedimentos –, os médicos levantaram a hipótese de uma doença grave e antiga do fígado. Diante da nossa perplexidade, perguntaram se ele bebia. Claro que sim; era, como nós, boêmio. Mas daí a ter uma hepatopatia grave! Mas, quem sabe?. Nenhum de nós se lembrou do acidente.

No dia seguinte, a hipótese se confirmou em um diagnóstico mais atemorizante: o fígado estava destruído pela cirrose; o esôfago, tomado por grossas e frágeis varizes; os rins tinham parado. Mais perplexidade. Até um pouco de raiva do Kakalo, que nunca comentou o problema, nunca reclamou de uma dorzinha no fígado, que nunca deu uma dica de que estava mal. Nenhum de nós se lembrou do acidente.

Como uma prece, o caçula, Mariozinho, fez o samba cuja introdução melódica reproduzia os sons do CTI e os versos chamavam Kakalo para a vida, exaltando o sangue bom que se sobrepunha à hemorragia.

“Meu irmão,
cada gota de sangue em teu sangue
é sangue bom...”

Nos 20 dias de internação, não sei exatamente quando um de nós (que também não sei qual foi) se lembrou do acidente e dos salvadores seis litros de sangue daqueles idos de 1977. A charada começava a ser desfeita.

Até 1992, quem se via obrigado a tomar uma transfusão ou plasma ficava exposto a uma sortida variedade de vírus, da Aids às hepatites B e C. Entrava para um grupo de altíssimo risco. Mas ninguém sabia disso; não havia controle do sangue doado. Para o Kakalo, coube o vírus da Hepatite C (HCV), que se desenvolveu nele como na maioria dos portadores: silenciosamente, sem desconfortos, sem sinais.

A grande maioria dos pacientes de Hepatite C não apresenta sintomas; a fase aguda passa despercebida. Às vezes, tem alguma coisa, mas parece uma gripe forte. Assim, mais de 80% dos contaminados desenvolverão Hepatite C crônica e suas sequelas. Só descobrirão ao tentarem doar sangue ou quando, por alguma razão ou sorte, um médico solicitar o exame de Marcadores de Hepatite. O mais provável é que a descoberta só aconteça junto com as devastadoras complicações da doença, como a cirrose e o câncer de fígado.

Essas complicações podem aparecer décadas após a contaminação e, pior, também se desenvolver lenta e silenciosamente. Cerca de 40% dos pacientes com cirrose são assintomáticos. Quando surgem os sinais, a doença já está em fase muito avançada.

Segundo o site www.hepcentro.com.br, apesar dos esforços em conter a epidemia, especialmente com a realização de exames específicos em sangue doado, a hepatite C é uma ameaça crescente, que exige medidas adicionais de prevenção e tratamento.

Não sei quais as medidas preconizadas pelo site, mas tenho uma sugestão: que, na anamnese de seus pacientes, os profissionais da saúde (alopatas, homeopatas, dentistas, médicos do trabalho, terapeutas etc.) incluam a pergunta ‘Tomou transfusão de sangue antes de 1992?’. Sem o questionamento direto, acho difícil que antigos transfundidos tragam o assunto à baila – quem vai se lembrar?; quem vai imaginar que umas gotas de sangue pingadas na veia há 30 anos possam matar?

Mas, se algum antigo transfundido leu este texto até o fim, aconselho que procure um médico e peça o exame de Marcadores de Hepatite. É uma providência que vale ouro; ou vale vida. Kakalo era de pouco ir ao médico. Mas, certamente, teria uma outra história se há quatro anos, quando sofreu um AVC e se viu forçado a encarar um tratamento especializado, o neurologista tivesse feito a pergunta que levaria à descoberta da hepatite C. Por falta dela, e apesar de todo o aporte oferecido e do empenho de médicos, enfermeiros e demais profissionais do Hospital da Lagoa, Kakalo morreu no dia 14 de setembro, aos 57 anos, depois de quatro hemorragias causadas pela cirrose. Trinta anos depois, a hepatite C fez barulho e cobrou a conta.



*”Fui!” era uma expressão característica do nosso irmão Kakalo, registrado em cartório como Luiz Carlos. Que saudade!




Texto da minha tia e madrinha Graça Maria Lago, lido e comentado hoje na band news falando sobre essa doença....

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Horario Eleitoral Gratuito

Estava eu prostrado em meu sofá após mais um dia de trabalho, quando comecei a minha maratona televisiva iniciada com Malhação, seguida por Escrito nas Estrelas, RJTV, Ti TI Ti, JN.... Pois é, uma programação global, não por opção, mas o controle remoto estava em cima da mesa e eu estava com preguiça de levantar. Ao final do jornal, começou o horario eleitoral gratuito e como a preguiça ainda era grande resolvi que assisti-lo era melhor do que pegar o controle. Ah, se eu soubesse o que me esperava não teria tomado tal decisão. Fiquei indignado por esse horario ser gratuito, tinham era que me pagar para assistir os absurdos aos quais fui obrigado, pela preguiça, a assistir. Vamos aos fatos:

* Eurico Miranda na tela: "Vocês me conhecem, sabem que sou um candidato ficha limpa..."
Eurico, você tem que se decidir, ou a gente te conhece, ou você é um candidato ficha limpa.

* Com a quantidade de ex jogadores de futebol candidatos acho melhor mudar as reuniões do congresso para os campos do Aterro do Flamengo. Será que Bebeto e Romário vão repetir a parceria da campanha do tetra?
Romário e Edmundo podiam repetir uma parceria também, mas na música. Para quem não sabe, tinha um rap cantado por eles, "rap dos bad boys". Atualmente seria assim:
Nós somos bad boys
mas isso não tem nada a ver
vote na gente em outubro
que não vão se arrepender.

Se bem que o Romário não anda treinando pra ser deputado...


* Odeio esses jingles malditos que não saem da nossa cabeça. Certo dia estava no ônibus e quando dei por mim, me vi cantando "Ey, Ey, Ey mael, um democrata cristão...", morri de vergonha...

* É cada proposta absurda que a gente ouve.... Mas confesso, depois da confusão pra fazer a vistoria do meu carro, me deu vontade de votar no cara que é contra a vistoria do Detran.

* Tenho medo de mudarem o nome de Congresso Nacional para Congresso das Popozudas se Tati Quebra Barraco e Mulher melão forem eleitas....

Eu já tinha decidido faltar a aula, mas resolvi levantar, tomar um banho e ir pra faculdade. Eles me convenceram a estudar, porque se for pra depender deles.....
1x0 eles.

Isso, porque aqui no Rio a coisa ta light. Acreditem, podia ser pior. São paulo conta com Tiririca (pior que ta, num fica), Mulher Pêra, Ronaldo Esper (que quer agulhar os políticos), Kleber Bambam (ex BBB), Vampeta, Kiko e Leando do KLB (o B tem senso do ridículo), entre outros.

A política está tão banalizada, que não me surpreenderia ligar a Tv e dar de cara com um candidato do PADA (Partido dos Amigos Dos Amigos) pedindo voto:
"Eu sou Antônio Bonfim Lopes, o Nem, se você é favor do trânsito livre dos bondes entre as favelas, vote 762".